Bibliofilia: Amor por livros e por ler. O Bibliófilo ama ler e sente devoção pelos livros, colecciona-os e admira-os.

24/11/2010

O público feminino no mercado editorial

As mulheres lideram os mercados de vendas. Esta é uma noção cada vez mais aceite em todo o lado, principalmente pelas lojas e pelas próprias marcas e fabricantes. Não apenas fabricantes de produtos tradicionalmente femininos, como roupa, acessórios, cosméticos e produtos para bebés, mas cada vez mais de telemóveis, computadores, automóveis, cinema, produtos de supermercado e… livros.

Sim, as mulheres compram mais, usam mais, gastam mais. As mulheres influenciam as vendas de praticamente toda a gama de produtos, e por essa razão as marcas investem no público feminino para vender mais. Os livros não são excepção. Além de comprarem mais por natureza, lêem mais e compram mais livros! Cada vez vemos mais livros publicados com a ridícula (ou talvez não) categoria de “romance feminino”, e esses livros vendem melhor ainda que pãezinhos quentes. Autores como Nicholas Sparks, Nora Roberts, Lesley Pierce e aquela de nome impronunciável que só me atrevo a copiar de algum sítio onde já esteja escrito (Sveva Casati Modignani), são muito prolíficos e um sucesso de vendas garantido. Parece que todos os meses há um novo livro da Nora Roberts! Bom, não será bem assim, mas parece.

Em contrapartida, arrisco dizer que nem todas as mulheres pertencem ao público feminino. “Oh diabo… que confusão é esta?…” pensam vocês. Eu própria, sendo mulher, tenho dificuldades em conseguir conceber encaixar-me nessa categoria.

Vejamos, quem não gosta de um bom romance? Eu admito-me culpada. Adoro um bom romance. Adoro um livro que me faça chorar. Mas… detesto um livro que só tem romance. É confuso? Talvez. Torna-se mais fácil de entender se eu disser que o romance por excelência pertence a uma história maior, é vivido por personagens bem construídas num contexto bem elaborado e é contado numa escrita que toque o leitor, sem cair na lamechice.  
Romances há muitos. Dos bons é que rareiam. Já chorei com muitos livros, e nenhum deles era um “romance feminino”.

Mas eu não pretendo desprestigiar de forma algum estes livros nem os seus leitores. Se vendem muito, é porque há muita gente a comprar. E se compram muito, são pessoas que obviamente apreciam os livros que lêem, o que faz com que invistam nesses autores sem hesitação. São livros que sem dúvida lhes proporcionam bons momentos de leitura, e é essa a função de um livro. As editoras vendem, os leitores lêem. Não é difícil de perceber a lógica, e toda a gente fica contente!

As editoras investem num género literário que lhes garante retorno, e esse investimento cada vez paga melhor. Quanto a isso, nada que eu possa, ou queira fazer.
O que me irrita é o desprestígio dessas leitoras (sim, podemos perder a cabeça a assumir que são na esmagadora maioria leitoras e não leitores!) por parte das próprias editoras. Estou a referir-me a uma “moda” mais ou menos recente que, tenho verificado, se anda a espalhar nas livrarias: Livros “enfeitados” (na falta de melhor verbalização). Deixo-vos como exemplo os livros abaixo, e certamente conhecerão mais.






Desde saquinhos giros e coloridos a lacinhos, passando por flores de plástico… É todo um novo conceito de chamar a atenção para o livro. Já para não cair na discussão das ofertas e brindes que se oferecem agora com os livros. Por favor não me façam começar! Desde ursinhos de peluche a utensílios de cozinha, até um insólito fondue na compra de um livro sobre receitas de chocolate! (é verdade!). Eu que ficava tão contente quando na compra de um livro ofereciam... outro livro! Mas isso nos dias de hoje, pelos vistos, é tão pouco original! Até comida de gato vale! 


Um livro é um livro. A razão pela qual os bibliófilos compram um livro é para o ler. É claro que a estética é importante: procuramos completar sagas com edições semelhantes, gostamos de capas bonitas e adoramos bons gráficos e uma boa edição. E há coisa mais bonita do que uma bela estante cheia de livros? Certamente não se julga um livro pela capa, mas em caso de um olhar perdido numa livraria, uma capa cativante pode chamar o olhar (o que a leitura revela depois já é outra história). Mas em última instância, compramos o livro pelo conteúdo. Porque nos dá prazer ler os livros.
Desde quando é que o acto de comprar um livro depende mais daquilo que ele traz consigo do que simplesmente do seu conteúdo? Desde que as editoras acham que para nós mulheres comprarmos um livro, basta que seja bonitinho e tenha um romance comovente, e não conseguiremos resistir. É giro, eu percebo! Eu acho giro! Mas não é por isso que vou comprar o raio do livro! A expressão "livro de gaja" nunca teve tanta força.

O que está a acontecer aos livros? A verdade é que vende, e isso é que me irrita.

Fim do desabafo.



PS- Como raio esperam que eu enfie na minha estante um livro com uma flor de plástico colada na capa? o.O'

13 comentários:

  1. "Como raio esperam que eu enfie na minha estante um livro com uma flor de plástico colada na capa?"

    Ora aí está uma boa pergunta. Tenho esse livro e ainda estou a pensar como vou resolver esse problema.

    Gostei do texto! :)

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  2. É claramente algo que não tiveram em conta quando se lembraram da flor :P

    Obrigada
    beijocas

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  3. "Eu admito-me culpada. Adoro um bom romance. Adoro um livro que me faça chorar. Mas… detesto um livro que só tem romance. É confuso?"

    Not at all ;) Eu percebo perfeitamente o que queres dizer!

    Gostei do texto!! E infelizmente (ou felizmente) só posso concordar! --'

    "Um livro é um livro. A razão pela qual os bibliófilos compram um livro é para o ler.(...) compramos o livro pelo conteúdo. Porque nos dá prazer ler os livros."

    Bom, o mercado editorial não funciona bem assim e esse é o problema, como referiste... o que interessa é que venda, e sim, "livro de gaja" está a tornar-se uma expressão com muita força. Não pretendo tal como tu desprestigiar nada nem ninguém, mas a verdade é que há livros e livros, e há leitores e leitores!
    Como dizes, é giro, claro que sim... mas não é tudo!.. E, infelizmente, a verdade é que para além de vender, lidera!

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  4. Eu acho os livros de gaja bonitinhos Cat! :)

    Mas tens razão deviam apostar mais em determinados autores do que “enfeites”!

    Já não leio um romance a algum tempo e como “gaja” já me estou a sentir de ressaca.

    Acho que deve haver tudo para todos os gostos mas por favor não se esqueçam que “mais importante que a capa é o conteúdo! “ (que cliché heheh)

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  5. ..."livros de gaja", como não conhecia a expressão, por momentos cheguei a pensar que te referias a livros e a literatura para mulheres emocionalmente poderosas( as Gajas),emancipadas,leitoras convictas e decididas, a através dos livros mudarem conceitos e pré-conceitos..mas, oh, miséria,afinal falas de livros lamechas, para leitoras imaturas(?), procurando um lenitivo para um lado romãntico algo debilitado..gostei do post...

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  6. Eu acuso-me culpado neste caso, adoro Nicholas Sparks, Juliet Marrilier li um da Nora Roberts e digo-te não se encaixa aqui pois o romance foi apenas uma mais valia a um livro repleto de acção e suspense,ente muitos outros romances que li, mas enfim compreendo o desabafo.

    Só tenho pena de a minha mulher não ser tão amiga de livros como eu o que contradiz o que aqui está em causa LOL.

    Gostei de ler Sadiablo

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  7. Elphaba,

    Não é são os romances em si que me incomodam. Eu até acho giro os saquinhos e tal. Incomoda-me que desvalorizem o livro com uma estratégia de manipulação, apelando ao outros "instintos femininos" :P

    Ubik, obrigada. Fico contente que tenhas aprendido alguma coisa, nem que seja a expressão "livro de gaja" hehehe

    Fiacha, Acho que tiveste sorte no livro da Nora Roberts que leste. Pois outras pessoas que conheço, mesmo aquelas que lêem a autora e gostam, admitem que o enredo sem o romance é vazio. Há depois o factor originalidade. Pode-se gostar de um romance apenas pela romance, mas quando se lê 3 ou 4 livros em que a dinâmica não muda de todo, perde completamente o interesse.

    E eu não poria Juliet Marillier na mesma categoria ;) O romance é uma parte fundamental dos livros da Juliet, mas surge sempre num contexto histórico e um enredo político e cultural, e as suas histórias relevam uma forte pesquisa e conhecimento das culturas que retratam.

    Não me estranha nada a tua mulher contradizer esta questão, eu própria nego esta lógica :P

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  8. Eu tenho uma amiga minha que raramente lê e que sentiu o impulso de comprar um desses livros enfeitados, por isso eles têm efeito. Na minha opinião têm efeito para as pessoas que pouco lêem, porque sentem a necessidade de terem algo mais que o conteúdo do livro.
    Isto de romance feminino, género de que sou fã, tem muito que se lhe diga. Há muito boas escritoras de romance que não conseguem dar o salto para o main stream enquanto há as Svevas que escrevem mais do mesmo sem uma ponta de originalidade em cada livro. Concordo contigo quando dizes, tem que ter algo mais que só o romance, pois comigo também é assim.

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  9. Pessoalmente, não gosto muito de "livros de gaja" abro uma excepção ou outra mas no geral, confesso, irritam-me um bocadinho. É romance, romance, romance...são todos um bocado iguais, ou eu tive muito azar com os qu li. Não critico quem gosta, com certeza eu gosto de coisas que para outros não são assim tão boas.
    Ainda assim, esta moda nova custa-me a engolir. Aqui onde vivo, ou onde vivem os meus avós (são os dois lugares em que passo mais tempo) nem sequer há uma livraria; onde vivem os meus avós, nem há uma grande superficie (vulgo supermercado) num raio de 80km. Quando quero comprar um livro faço-o pela net, o que me custa imenso pois toda a envolvência da livraria, poder tocar nos livros e etc é mais de metade do prazer do acto de comprar um livro; se estou em minha casa vou a um supermercado onde é mais do que complicado encontrar algo que não este tipo de livros, "livros de gaja", quase só há disso. Por isso, acho que podem perceber que me custe a engolir esta moda, não gosto deste tipo de livros e eles estão por toda a parte, a ponto de das poucas vezes que posso ir a uma livraria digna desse nome, eles proliferarem quais cogumelos no outono chuvoso.
    Faz-me lembrar um pouco o ditado que a minha avó usava "por fora folhos e por dentro piolhos". Fazem um involocro apelativo, oferecem todo o tipo de coisas e o mais importante, passarem ao leitor a mensagem de que o livro é bom, fica relegado para terceiro ou quarto plano. Não percebo...

    Também não percebo as inúmeras ofertas com os livros. Posso aceitar que sejam uma ideia minimamente boa numa óptica de simples venda, pois que tende a cativar pessoas que por hábito não leem. Mas para quem gosta realmente de ler?? Quem gosta de ler mais depressa compra um livro porque com esta compra oferecem um outro livro do que gasta dinheiro num livro com o qual oferecem uma t-shirt, um fondue, ou o que quer que seja. Quem gosta de ler gosta de livros e o resto... bem, o resto é o negócio dos outros senhores.

    Bjs

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  10. Alice,
    Eu também não costumo ler este "género" de livros, e ou tive muito azar nos que li, ou então não são mesmo para mim.
    Tens toda a razão, este tipo de livros é o que mais se encontra e mais publicitado está. Em locais onde a quantidade de livros é reduzida, é difícil encontrar livros do género.

    Eu entendo perfeitamente a tua frustração com o facto de perderes um pouco do culto da livraria, com as compras online. Eu própria compro muito online (para aproveitar promoções, na maioria das vezes), mas adoro ir a livrarias, só para ver e tocar nos livros.

    Eu adoro as ofertas com os livros, quando a oferta é: outro livro! Quando é algo minimamente relacionado com a leitura, como marcadores de livros, ou caixas arquivadoras, também posso achar piada. Mas um fondue! Comida de gato! Ultrapassa-me....
    Mas enfim... a verdade é que vende, e quanto a isso.

    Obrigada pela tua visita e comentário :)

    bjs

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  11. LOL

    Adorei. Concordo com tudo. E raras são as vezes em que os meus gostos literários se situam na onda dos ditos "romances femininos".
    Perdoem-me, se gostarem, mas eu detesto livros que vêm em saquinhos transparentes e brilhantes, com florzinhas e sei lá mais o quê. Não acho piada nenhuma. Escusado será dizer que sou uma viciada na leitura desde a mais tenra idade... :)
    Livro que é livro vale pela sua boa história, pelas palavras bem escolhidas e pela escrita harmoniosa.

    http://escritoemlaranja.blogspot.com
    http://outraformadeviajar.blogspot.com

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  12. Confesso que sou incapaz de perceber o que há de atraente num livro com flores coladas ou envolto num tecido rasca que só serve para depois criar lixo (a não ser que seja comum guardá-los assim na prateleira).

    Não duvido que haja gente que gosta, mas partir do princípio que este tipo de marketing atrai as mulheres parece-me naive e redutor. Qual é o equivalente para os homens? Colar carrinhos de plástico na capa? Ou para um homem um livro basta?

    Na verdade, se querem fazer marketing com base em clichés de géneros, podem sempre fazê-lo (e fazem-no, eu sei) através da ilustração da capa.

    (E eu até gosto de flores. Mas prefiro-as vivas e biodegradáveis.)

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