Bibliofilia: Amor por livros e por ler. O Bibliófilo ama ler e sente devoção pelos livros, colecciona-os e admira-os.

27/01/2011

Booking Through Thursday - Pesado


Qual foi o maior livro, o mais volumoso e pesado, que já leste? Leste por obrigação? Por prazer? Para a escola?

O maior e mais pesado livro que tenho em casa é o Molecular Biology of The Cell. Não é literatura, antes a Bíblia da Biologia Celular. Dizer que já o li não é propriamente verdade, mas durante uns meses usei-o para estudar. Tem 1600 páginas de tamanho superior a A4, e é extremamente pesado! Definitivamente não foi lido por prazer.

Estou neste momento a ler o livro de literatura mais pesado e com maior número de páginas que tenho na estante, e penso que nunca li outro maior. É o 2666 do Roberto Bolaño. Tem 1030 páginas na edição portuguesa (com páginas muito finas, letra muito pequena e o que faz poupar cerca de 100 páginas relativamente à edição inglesa). É tão pesado e grande que quase me provoca lesões nos membros superiores (felizmente tenho isto!). Está a ler sido verdadeiramente por prazer.

A edição que tenho do Conde de Monte Cristo, que não foi a que li, também é assustadora, em dois volumes de umas 600 páginas cada. É uma edição incompreensível do Público com uma letra gigante. Outros calhamaços por ler tenho O Nome do Vento e Nómada.

25/01/2011

Aquisições de Janeiro

 Os Deuses dos Livros que me ajudem. Uma das minhas resoluções de Ano Novo foi procurar reduzir o número de livros a adquirir, de forma a conseguir dar cabo da minha pilha de livros para ler. Bom, Janeiro é logo o primeiro mês, por isso não conta! 


Este mês fui à Fundação Dr Cupertino de Miranda, na Boavista, onde está a decorrer a Festa do Livro. Com livros de fim de stock a preços malucos e também novidades disponíveis, esta festa é uma perdição. Foi lá que adquiri, desde 1€ a 5€:
O Clube de Combate, Chuck Palahniuk
O Feitiço, Chalotte Brontë
A Ilha do Tesouro, Robert Louis Stevenson
Romeu e Julieta, Shakespeare
A Sangue frio, Truman Capote.
O Rei do Inverno, primeiro da trilogia do Senhor da Guerra, de Bernard Cornwell, pelo excelente preço de 12.5€. Já queria ter esta trilogia há imenso tempo, por isso estou a ponderar ainda voltar lá para buscar os outros dois pelo mesmo preço. 
Comprei ainda à Colibri o Sally, de Jorge Candeias, e pela encomenda à Saída de Emergência vieram o Sr Bentley, o Enraba Passarinhos (com a sua fitinha marcadora de páginas sob ataque felino) de Ágata Ramos Simões e Alex 9 - A Guardiã da Espada, de Martin S. Braun.



Ofertas ou via WinkingBooks chegaram:
O Leão Escarlate de Elizabeth Chadwick.
A Casa das Sete Mulheres, Letícia Wierzchowski 
O Labirinto Perdido, de Kate Mosse
O BarãoTrepador, de Italo Calvino




Existe algum grupo de ajuda para isto? Bibliófilos Anónimos. Quem se junta?

24/01/2011

Acessórios literários para Bibliófilos

Bem o sabemos, a devoção aos livros abrange não apenas o conteúdo literário como o objecto físico do livro. Mas nem só de livros vive um bibliófilo. 

O verdadeiro "bookworm" deleita-se não só com o próprio livro, como com todo o tipo de objectos relacionados com o mesmo. Quantos de nós coleccionam marcadores de livros? Quem é que não dá por si a olhar embevecido para uma estante repleta? Quantos de nós não suspiramos quando entramos numa biblioteca? 

Esta bibliófila em particular arranjou outras "manias" livrescas, que não teriam passado de meras ideias, se não tivessem sido prontamente e brilhantemente concretizadas por uma pessoa talentosa (e, admitamos, com demasiada paciência para me aturar!)

Sempre tive o hábito de transportar livros comigo em viagens. Quem tem um livro nunca está só, e as viagens passam a voar quando se está a ler. Com uma mudança de casa no ano passado, passei a ter de lidar com viagens diárias em transportes públicos, e portanto, um transporte mais agressivo para os meus pobres livros, perdidos na confusão que é (sempre) a minha carteira. Cantos dobrados, capas riscadas, lombadas sujas, páginas marcadas... não podia ser!

Vi pela net umas imagens de bolsas e capas elaboradas para proteger livros, e como quem não quer a coisa, mandei essas imagens e links para o mail da minha mãe... Que me respondeu pedindo medidas! Passados apenas uns dias recebi pelo correio esta beleza, que se tornou a minha melhor amiga, e a dos meus livros, claro:






(Como se não bastasse ainda tive a lata de encomendar outra semelhante para oferecer a uma amiga)


Como se pode ver na barra lateral, estou neste momento a ler o grande calhamaço que é o 2666, de Roberto Bolaño. O que não se vê é que o livro tem cerca de 1000 páginas e pesa 1,2kg. É quase um pacote de arroz, nem é assim tanto peso, pensam vocês. Mas quando se está a ler pela noite adentro, passadas algumas horas os meus braços estão exaustos e já não consigo pegar no livro. 
É fácil, basta pousá-lo. Mas experimentem ter um pacote de arroz com arestas duras em cima da barriga que vão descobrir que passada meia hora têm de pegar numa almofada para sustentar o raio do livro, e passar o resto do tempo em acrobacias perigosas (todo o cuidado é pouco quando se está a trabalhar com pesos pesados) com a almofada e o livro, que se não fosse tão bom, daria um excelente tijolo.



Uma destas noites fui dar a um site que indicava Gifts for Bookgeeks ou algo do género, e tive uma revelação: esta almofada! Em qualquer outra altura da minha vida talvez tivesse pensado “as coisas que eles inventam”, mas neste caso fiquei fascinada, porque ia de encontro precisamente às minhas necessidades actuais!

Como desta vez a peça me pareceu mais arriscada e elaborada (sou a total ignorante da costura), mandei novo email à minha mãe, com o link e outras imagens elucidativas, e só perguntei se era possível tal peça ser sequer feita!

Quando fui a casa dos meus pais este sábado dei de caras com a almofada especial em cima da mesa e tive um ataque de histeria:







O ângulo é o ideal para manter a leitura, e é bastante útil quando se muda de posição 30 vezes por hora quando se está a ler na cama. E nem falta a fitinha para marcar a página!

O resto da história é fácil de adivinhar. Passei esta noite a ler no sofá, super confortável na minha manta com mangas (perfeita para manter os braços quentinhos), com a minha almofada especial e o meu livro em boa forma.

Para já estou satisfeita, resta saber o que me vou lembrar a seguir. 


Ps- Posso assim confirmar que o talento para trabalhos manuais não é genético :P

21/01/2011

Microsoft Office Word no Blogger


Este post foi criado de raiz no Word e publicado directamente no blog pelo Word.

Deu-me para explorar a função "Criar novo artigo de Blogue"… Foi só associar à minha conta do Blogger (demorei uns segundos a identificar o host do meu blog como o Bloguista o.O) e não é que a coisa resulta mesmo? Sou mesmo noob nisto dos blogs!

I win!


ps- É claro que a razão pela qual eu estava a criar um novo documento no Word era para trabalhar em vez de andar a blogar, mas pronto!

20/01/2011

Sr. Bentley, o Enraba-Passarinhos

Sr. Bentley, o Enraba-Passarinhos, Ágata Ramos Simões 
Núm. páginas: 162
Editora: Saída de Emergência



Sinopse: Sr. Bentley, o Enraba-Passarinhos, irá provocar incontroláveis convulsões aos amantes das ditas avezinhas e a qualquer incauto que ainda não tenha compreendido as verdades do mundo. É um clister moral, uma purga mal-pensante, um insulto ao bom-gosto, um gosto pelo insulto, um compêndio de palavras feias e um espelho do Portugal politicamente correcto em que o leitor habita. O Sr. Bentley não conhece travão e nada tem de sagrado. Mais do que uma pedrada no charco, é um verdadeiro pontapé nas penduricalhas miudezas deste pântano à beira mar encalhado; Portanto, leitor, acomode a coquilha sobre as jóias da família, proteja os dentes, e prepare-se para a porrada, porque o Sr. Bentley é um peso-pesado. Um Atlas que carrega com alegria sobre os ombros tudo o que de mais abjecto, medonho, mesquinho, estúpido e medíocre os portugueses têm… e, por isso, é um verdadeiro encanto. Pensando bem, caro leitor, tire daí a mãozinha; este livro não é para si! 



Opinião: Já estava há bastante tempo (anos) de olho neste livro curioso. O título por si só faz adivinhar uma obra diferente, e a sinopse não engana. Depois de tanto tempo a adiar, a leitura conjunta no Fórum Bang! foi a desculpa ideal que me levou a finalmente incluí-lo na encomenda. 

Assim que o livro chegou estava ansiosa para começá-lo, porque em adição às expectativas anteriores, verifiquei que este livro tem uma edição primorosa: capa dura, encadernação a um papel rugoso, quase tecido; fita de marcação de páginas; papel de excelente qualidade; e o melhor de tudo, engraçadas ilustrações ao longo do texto, que deram uma graça muito especial ao livro (apesar da ficha técnica não referir o autor das mesmas). Em suma, uma excelente edição, que muito me agradou. 

Talvez tivesse expectativas demasiado elevadas relativamente a este livro. Estava à espera de me fazer dar grandes gargalhadas e de o ler num ápice. Mas não. 

O Sr. Bentley é um homenzinho desprezível. O desprezo que lhe é dirigido pelas pessoas em geral só é ultrapassado pelo desprezo que ele próprio sente pelas pessoas. Menos a sua santa esposa, a velha, que adora e maltrata com surpreendente vigor. Mas o que ele adora é visitar cemitérios e cuspir nas criancinhas. E insultar pessoas, claro, mas sempre com o seu guarda-chuva adorado, que lhe permite planar por esses céus afora e assim escapar a valentes sovas. 

Esta personagem é o centro de todo o livro. A autora escreve de forma deliciosa, com um brilhante domínio da língua, que nem o extenso uso do vernáculo disfarça. O livro está pejado de uma forte crítica à sociedade portuguesa (assumindo que não é esse o objectivo central do livro), num tom de humor negro que apesar de mordaz, não me fez rir se não em passagens. 

O Sr. Bentley é uma personagem caricata e excêntrica, e dizem que é mau como as cobras. Algumas das suas acções são verdadeiramente incríveis, e chegam a ser chocantes. Esse é outro tom do livro: chocante. Quer seja por algumas passagens do Sr. Bentley, quer pelo valente vernáculo utilizado (chega a ser palavra sim, palavra sim), é um livro que pode facilmente ferir algumas susceptibilidades. Na minha opinião pessoal os palavrões são despejados no texto como parte da caracterização do personagem (mas não deixam de ser cansativos a certa altura) e senti que em parte foi apenas e meramente com o objectivo de chocar o leitor. 

É um livro que relata episódios sucessivos das aventuras do Sr. Bentley, não necessariamente com ligação entre si. Senti que lhe faltou um fio condutor, um rumo que o poderia ter transformado numa obra genial e hilariante. Penso que este livro tinha enorme potencial e um conceito brilhante, mas a concretização ficou aquém do que poderia ter sido se a autora tivesse seguido um rumo mais maduro. 

É sem dúvida um livro diferente e irreverente, e não o considerei uma perda de tempo, mas não posso negar que me desiludiu um pouco, apesar de algumas cenas verdadeiramente interessantes. 


O melhor: A relação do Sr Bentley com a Miss Joyce e o final. 
O pior: Pensar que este livro tem um conceito brilhante e que poderia ter sido muito melhor. 

2/5 – Ok.

Booking Through Thursday — Periódicos

Seguindo o exemplo da WhiteLady e da Célia, decidi aderir ao BTT. 

Não, não é bicicleta todo-o-terreno, a minha continua desterrada na garagem, obrigada.

É o Booking Through Thursday. Um blog que sugere todas as quintas-feiras temas relacionados com livros e as nossas leituras, para os bloggers publicarem nos seus próprios espaços. Como a ideia é a da partilha entre nós e também com o blog que deu o mote, deixamos por lá o link do nosso post.
Eu adorei a ideia e resolvi juntar-me esta quinta-feira. O tema desta semana é Periódicos. 



Até eu leio outras coisas para além de livros de tempos a tempos... como revistas! Que revistas/jornais lês? 



Sou assinante da National Geographic. É uma revista fantástica e obrigatória. Apesar de ter de reconhecer que a qualidade dos artigos da edição portuguesa é muito variável de edição para edição, considero que no geral continua a ser uma revista muito interessante, que abrange várias áreas (desde a História à Ciência), que leio na íntegra. E as fotografias são deslumbrantes! Acho que se um dia perder todo o interesse no conteúdo, continuarei a adquirir a revista só por isso. Para os interessados, a assinatura online fica por metade do preço! Vejam aqui.

Até há uns meses atrás comprava mensalmente a Premiere (a única revista além da NG que lia na íntegra e religiosamente), mas deixei de o fazer. Perdi completamente o interesse na revista, infelizmente, devido à queda da qualidade dos conteúdos e aos contínuos atrasos na publicação. Comprava a Premiere no início do mês, e informava-me imenso sobre as estreias desse mês. Quando saía apenas na 2ª ou 3ª semana do mês, eu já tinha visto alguns dos filmes e a revista perdia a função primária, e como os conteúdos adicionais foram diminuindo e decaindo o interesse, deixei de comprar. Estou a pensar comprar no próximo mês, para ver como está a revista agora.

Durante muitos anos lia a Visão e a Sábado, que havia sempre em casa dos meus pais, mas devo confessar que nos dias de hoje só compro quando oferecem livros e apenas quando não posso adquirir apenas o livro.

Durante uns meses comprei a revista Os Meus Livros, mas acabei por deixar de o fazer. Achava que as opiniões e as divulgações de autores tinham um carácter um pouco elitista demais. Mas pode ter sido má impressão minha.

Leio os jornais diários (JN e Público) diariamente na net, e apesar de adorar a sensação física de desfolhar um jornal, cada vez tenho menos vontade de comprar jornais. Com algumas excepções, revolta-me a qualidade do jornalismo no geral. Provavelmente ando a ler os jornais errados…

No final do ano passado li a o nº 8 da Revista Bang! e foi surpresa bastante agradável. Gostei bastante dos conteúdos e do grafismos da revista.

Os outros periódicos que leio são revistas científicas, sob a forma de artigos, e esses já me dão cabo da cabeça!

17/01/2011

A Senhora de Shalador, Anne Bishop

A Senhora de Shalador, Anne Bishop

Título Original: Shalador's Lady
Núm. páginas: 496
Editora: Saída de Emergência

Sinopse: Durante longos anos, o povo de Shalador suportou as crueldades das Rainhas corruptas que reinavam, proibindo tradições, punindo quem se atrevia a desafiá-las e forçando muitos à clandestinidade. Pese embora os refugiados tenham encontrado abrigo em Dena Nehele, nunca conseguiram considerar esse lugar como a sua terra. Agora, depois da aniquilação dos Sangue deturpados de Dena Nehele após a purificação, a Rainha de Jóia Rosa, Senhora Cassidy, assume como seu dever restaurar a terra e dar provas das suas capacidades como soberana. Ciente de que para assumir tal tarefa irá precisar de todo o ânimo e coragem que conseguir reunir, invoca o poder dentro dela que nunca fora posto à prova, um poder capaz de a consumir caso não consiga controlá-lo. Ainda que a Senhora Cassidy sobreviva à sua prova de fogo, outros perigos a aguardam. Pois as Viúvas Negras descortinam nas suas teias entrelaçadas visões de algo iminente que irá mudar a terra - e a Senhora Cassidy - para sempre.


Opinião: A história deste livro passa-se logo a seguir aos acontecimentos de Aliança das Trevas. Cassidy é Rainha de Dena Nehele, com um contrato de apenas um ano de experiência. Este povo muito fragilizado e maltratado está tão sedento de uma boa Rainha como a própria terra. Depois de ter recuperado o tesouro de Lia, a antiga Rainha de Jóia Cinzenta do território, Cassidy conquistou a simpatia e a confiança da sua corte e dos habitantes da sua casa. Esta Rainha de Jóia Rosa está gradualmente a demonstrar a sua capacidade de fazer renascer Dena Nehele, quer junto dos Sangue e dos plebeus da povoação de Grayhaven como também junto dos Sangue influentes do resto do território. Mas nem todos sentem que Cassidy possa fazer a diferença, e existem aqueles que sobreviveram à purificação dos Reinos mas que contêm em si uma semente de perversidade e da deturpação dos Sangue. Essa semente pode encontrar terreno para germinar no coração de uma jovem e insegura Rainha, e destruí-la se esta não for protegida. 



Sou uma fan incondicional de Anne Bishop. O seu mundo das Jóias Negras arrebatou-me de forma inesperada e irregovável desde Filha do Sangue, e estas personagens e o seu negro mundo nunca mais me largaram. Para quem já leu a trilogia das Jóias Negras, é fácil perceber que sou uma apaixonada por este mundo e as suas personagens. Basta atentar no próprio nick que escolhi para me apresentar: SaDiablo. É um nome que traz tanto significado. É o nome da minha personagem favorita desta autora, e é o nome da minha segunda personagem favorita, e também (com uma ligeira variação) da minha terceira personagem favorita. A minha quarta personagem favorita não se chama SaDiablo devido a um acontecimento que é desvendado na trama da trilogia, mas é filho da favorita e irmão da terceira. Confuso? Para os estreantes no mundo fascinante de Anne Bishop, cedo percebem que esta é uma família a ter em consideração, e que aprenderão a amar. Para os já convertidos, desafio-vos a adivinhar as minhas preferências. Mas adiante... (para uma descrição muito precisa do significado que esta autora tem para mim, convido-vos a ler este post da Carla Ribeiro, leitora convidada da Célia no Estante de Livros). É sem dúvida uma das minhas autoras favoritas (só perde para Juliet Marillier) e aguardava com expectativa este A Senhora de Shalador.



Apesar da minha devoção a esta autora, foi a muito contragosto que me tive de admitir não ter gostado tanto de alguns dos últimos livros publicados. Em Jóia Perdida achei que muito do potencial da história ficou por terra, e nem o protagonismo da fantástica Surreal e do rebenta-paredes Lucivar, ambos sempre deliciosos, conseguiu trazer o livro ao nível que Bishop nos tinha vindo a habituar. Com Sebastian e Belladona, Bishop apresenta-nos todo um novo universo, Efémera. E apesar de serem livros que gostei imenso e me terem agarrado do início ao fim, não me arrebataram como as Jóias Negras (que estão por si só num patamar muito elevado de comparação). O Anel Oculto apresenta-nos acontecimentos fora da série temporal dos anteriores das Jóias Negras, e apesar de ser um excelente livro, não evitei sentir saudades das personagens que tanto adoro. É no seguimento deste que surge Aliança das Trevas, com novas personagens principais, mas um protagonismo partilhado com o clã SaDiablo e companhia, e devo dizer que isso fez toda a diferença.



E assim chegamos a este A Senhora de Shalador, continuação directa do anterior. O melhor elogio que posso fazer a este livro é que me fez regressar ao mundo das Jóias Negras de uma forma tão arrebatadora como já não acontecia desde a trilogia e Teias de Sonhos. Uma Anne Bishop da qual já sentia saudades e que tem em mim um efeito de droga. Este livro deixou-me ao mesmo tempo saciada e exultante, com vontade de ter mais; para logo a seguir começar sofrer os terríveis efeitos de abstinência com o esgotar da dose. Li-o em dois dias, com direito a noitadas e olheiras consideráveis no dia seguinte. 

A história desta nova Rainha, da sua corte e do seu povo cativou-me e fez-me ler noite adentro. As novas personagens, densas e tão interessantes como as já conhecidas conquistaram-me. Os Parentes fizeram-me rir e quase chorar. A malvadez e a deturpação dos vilões, e a estupidez e cegueira daquele que não é vilão no coração fizeram-me virar páginas furiosamente para ler mais. E claro... as minhas personagens favoritas agarram-me em todos os capítulos em que surgem. Um balão de oxigénio que eu mal conseguia largar, um pedacinho mais desta droga que me faz rir tanto como faz chorar. Matei algumas das saudades destas pessoas que não existem, e fiquei com muitas mais. Talvez seja impressão minha, mas creio que detectei na escrita sentimentos semelhantes da própria autora, como se cada linha escrita acerca de Jaenelle, Daemon, Lucivar, Saetan, Deamonar, Draca e Karla (Beijinho, Beijinho) fosse um presente auto-imposto. Como se a autora sentisse tanto prazer a escrever sobre este mundo, como nós a ler. E tanto carinho e adoração pelas suas criações como os seus leitores mais fieis.

Acredito mesmo que assim seja, e recomendo sem qualquer reserva este livro a leitores de Anne Bishop, mesmo aqueles que se desligaram um pouco da autora. E recomendo também, e recomendo sempre, àqueles que ainda não conhecem esta autora que não percam tempo. Não é um tipo de leitura para todos os gostos, e há quem recomende apenas a estômagos fortes, mas é sem dúvida um universo arrebatador e apaixonante.


Deixando apenas umas notas finais, positivas e negativas (que este testamento já vai longo). Mais uma vez uma capa muito bonita e apelativa, e uma excelente tradução da Cristina Correia, como tem sido hábito! 
Por outro lado, além do enorme azar que tiveram com a exclusão inadvertida de um capítulo da história, é impossível não reparar no pobre trabalho de revisão que este livro foi alvo. Para aqueles que, como eu, não perdoam uma dose considerável de gralhas, exorto-vos a ignorá-las e prosseguir a leitura, que recompensa os pequenos erros. Não é nada comum no trabalho desta editora, que nos tem proporcionado livros com excelente qualidade gráfica e edições muito boas, por isso esperemos que este livro tenha nos próximos tempos uma nova edição com as devidas correcções.


O melhor: Um excelente regresso ao universo das Jóias Negras.

O pior: Os problemas de nível gráfico que têm assolado esta edição, mas que acabam por não ensombrar a qualidade do livro.



5/5 - Excelente!

Game of Thrones - Novo Teaser

Foi divulgado um novo teaser da série Game of Thrones, baseada no livro de George R. R. Martin. 
O Trono de Ferro está magnífico!






O Inverno está a chegar.
Para seguir no blog Game of Thrones Portugal

15/01/2011

Eu e os Livros (II)

Quando li o post da WhiteLady no Seu Cantinho, decidi partilhar também a minha história com os livros ao longo do tempo. E depois tive uma ideia melhor: desafiar um blog amigo a fazer o mesmo, e assim criar uma cadeia de histórias sobre livros.

Fica aqui o meu percurso no reino dos livros, apesar de não conseguir lembrar-me exactamente de quando começou.


Não sei quando comecei a gostar de livros. Não me lembro qual o primeiro livro que li. Não me lembro qual a primeira história que me apaixonou e que me fez gostar de ler. Mas sei que lá em casa sempre houve livros: enciclopédias, livros de Ciência, História, Arte e de Natureza Animal. Os meus pais compravam para mim e para o meu irmão colecções daqueles livros infantis de páginas de cartão grosso, criados para resistir aos membros desajeitados de qualquer criança, mesmo assim tão manuseados que acabaram por se desfazer com o tempo. Eles liam-nos as histórias algumas vezes, mas naquela altura nem interessava tanto, o livro em si era o objecto que inspirava as histórias que nós inventávamos enquanto não as conseguíamos ler. 

Quando tinha 6 anos o meu pai levou-me à Biblioteca Municipal da nossa cidade, para eu me inscrever. Sei que idade tinha porque tinha entrado para a escola primária. Explicou-me que sendo leitora da Biblioteca podia pedir livros emprestados, ler e depois devolver. E que podia sempre voltar para buscar mais. Um edifício antigo (tão antigo que já nem é o mesmo hoje em dia), paredes de pedra e escadas escuras, chão de madeira e…deserto, claro. É engraçado, lembro-me que na altura senti-me tão intimidada. Eu nem sabia ler ainda! Fiquei um pouco chateada por quererem que eu lesse sem ainda ter aprendido! Acho que apesar da insistência do meu pai e da senhora bibliotecária (que apesar do edifício e tantas outras coisas terem mudado, permanece ainda por lá) não trouxe nenhum livro naquele primeiro dia. 


Não me lembro bem quando voltei lá, mas sei que depois do arranque envergonhado passei a ir diariamente à Biblioteca entregar 5 livros e trazer outros 5, que era o número máximo permitido. Era uma chatice preencher todos os cartõezinhos de papel cor-de-rosa das requisições, mas na verdade valia a pena, e com o tempo já nem era preciso mostrar o cartão. Livros da Disney, da Anita, contos tradicionais incontáveis e histórias infantis eram devorados diariamente. E a Biblioteca cheirava tão bem… E os livros estavam sempre lá outra vez, e alguns eu requisitava repetidamente e voltava a lê-los. Os livros de contos tradicionais eram os meus favoritos. Até recebi num Natal um livro cheio de histórias, uma para cada dia do ano (é claro que li logo tudo, mas pronto).

E quando passei para o ciclo e descobri que na escola havia outra biblioteca? É engraçado pensar que apesar de tanta oferta reli e voltei a reler tantos e tantos livros. Há histórias que simplesmente não nos deixam. 



Numa feira do livro na escola o meu pai comprou uma colecção de livros infantis sobre Gnomos, Dragões, Fadas e outras criaturas mágicas, e deu-mos com a condição de ler primeiro um outro livro, velhinho e muito estranho. Sem imagens, só letras! Cheia de vontade de ler os outros mágicos, devorei Os Cinco e A Ilha dos Murmúrios, naquilo que foi o início de uma fase de leitura mais juvenil. Depois d’Os Cinco foi Uma Aventura, Alice Vieira e Sophia de Mello Breyner (anos mais tarde viria a apaixonar-me pelo Equador do seu filho), os livros de Adrian Mole







Pelo meio foram surgindo livros tão marcantes como o Diário de Anne Frank e O Perfume. Tive tempo para me apaixonar pelos espirituosos Asterix e Obelix e ler e reler e reler os livros de BD do Tio Patinhas e companhia antes de, por volta dos 13, conhecer o pequeno feiticeiro caixa de óculos, Harry Potter e me apaixonar por um mundo mágico que me acompanhou até depois dois 20. 

Como sempre tive o hábito de frequentar bibliotecas, para mim era perfeitamente natural trocar livros com amigos, e tratá-los como se fossem meus. Muitos dos livros que mais me marcaram na minha vida foram-me emprestados ou requisitados (muitos dos quais tenho andado a adquirir recentemente para a minha estante pessoal). Um deles foi precisamente Harry Potter e a Pedra Filosofal, a empréstimo de uma amiga. A Câmara dos Segredos foi-me depositado na mesinha de cabeceira de um sábado de manhã, depois de muito pedinchar, certamente, e estava terminado antes do final da noite. 

No 6º ano a minha professora de Português, tentando cativar alunos menos dados à leitura, propôs a leitura em voz alta de A Lua de Joana. Os 10 minutos finais de cada aula estavam reservados para ouvir a professora a ler mais um capítulo do livro, e quando tocava para a saída, implorávamos para ficar ouvir mais durante o intervalo. Já não me lembro do nome da professora, mas não me esqueci do livro. Li tudo de Paulo Coelho (apesar de hoje em dia não conseguir ver porquê, mas é daquelas coisas), apaixonei-me irrevogavelmente pelo Conde de Monte Cristo e adorei a magia no contexto histórico de Leonor de Aquitânia. Todos estes livros foram emprestados por amigas ou requisitados da Biblioteca. 

Também foi pela mão de uma amiga que conheci duas das minhas autoras favoritas. A Casa da Floresta foi o primeiro livro de Marion Zimmer Bradley que li, e os livros desta autora, principalmente a Saga de Avalon e O Presságio de Fogo, foram muito marcantes para mim e definiram muito do meu percurso como leitora no futuro. Um pouco mais tarde, quase como uma evolução natural, veio A Filha da Floresta, de Juliet Marillier, a minha escritora favorita. 

Por esta altura já se nota um certo padrão nas minhas leituras favoritas. Pois é, o meu género favorito é a fantasia. Muitas vezes considerado um género de literatura menor, não tenho vergonha de dizer que a fantasia me enche as medidas como leitora. A perfeita fusão entre o que de mais humano e real pode haver nas pessoas e a magia e os mistérios da Terra. 

Foi quando se esgotaram os novos livros da Juliet no mercado que me virei para a internet em busca de mais informações e contacto com a própria, e acabei por me infiltrar no mundo literário da net. A partilha de informação e opiniões levou-me a experimentar leituras que talvez não arriscasse. 

Mas tento ler de tudo e procuro pegar num livro em preconceitos relativos a géneros ou categorias (mas por reconhecer a minha queda para a fantasia, propus-me um compromisso literário para este ano). Estou sempre a querer ler mais, e parece sempre que é de menos. Costumo dizer que quando se tem um livro nunca se está só. Cresci no meio dos livros e cresci com eles. Mais do que companheiros que me acompanharam ao longo da minha vida, sei que aprendi alguma coisa com todos os livros que li. 


Qualquer pessoa pode tornar-se um bibliófilo. Aquele que já gostava de livros antes de saber ler e aquele que só percebeu que é apaixonado por livros quando leu aquela obra que tão inesperadamente o arrebatou e lhe encheu o coração de calor. 

As pessoas que não gostam de ler, simplesmente ainda não leram o seu livro favorito.

Gostava de ouvir as vossas histórias da maneira como os livros vos seguiram na vida. Vão ser todas diferentes, mas sei que vão ter muita coisa em comum.


Para continuar esta cadeia, desafio a Elphaba, do Histórias de Elphaba a contar a sua história literária.


Ficamos à espera :)

13/01/2011

Sally, Jorge Candeias


Sally, Jorge Candeias 
Nº páginas: 38
Ano: 2002
Editora: Edições Colibri / Câmara Municipal de Portimão


Sinopse: Sally é uma história de amor...é uma história de amor que é tudo menos convencional, nascida sem a interferência de hormonas ou feromonas num lugar estranho e mutável. É uma história de amor que, pelo menos aparentemente, é unilateral, e o objecto desse amor dá título ao conto. Sally é a mulher perfeita. Pelo menos é essa a resposta que obteriam do Alberto Liemann se lhe perguntassem alguma coisa. 
Aviso: além disto tudo, é também uma história de ficção científica. 



Opinião: Alberto entra num bar e pede uma bebida forte. O ambiente que o rodeia é se uma observação semi hostil de todos os seus movimentos. Então ouve uma voz feminina que o cumprimenta. O mundo de Alberto desaparece naquela voz cristalina, e concentra-se na sua origem: a magnífica mulher que o abordou. Chamava-se Sally. 

Este é um pequeno conto que li num ápice, assim que chegou à caixa de correio. Estava bastante curiosa relativamente a este pequeno livro, por conhecer o autor de outro tipo de trabalho: a tradução, excelente diga-se, de obras que adorei, como as Crónicas do Gelo e do Fogo, de George R. R. Martin, Duna de Frank Herbert e A Criança Roubada de Keith Donohue. 

Adorei a escrita fluída e deliciosa do autor e a maneira como a história evoluiu em direcção ao twist final, faz repensar tudo o que foi lido desde a primeira linha. Gostei muito deste conto, excepto pela sensação agri-doce de me ter sabido a pouco. Fiquei curiosa relativamente à eventualidade de o ver no registo de história mais longo e complexo. 

Podem acompanhar o autor na Lâmpada Mágica.

O melhor: Sally. 
O pior: Sabe a pouco. 


4/5 - Gostei bastante

11/01/2011

O Homem do Castelo Alto, Philip K. Dick


O Homem do Castelo Alto, Philip K. Dick
Título original: The Man in The High Castle

Núm. páginas: 288


Sinopse: Estamos em 1962. A Segunda Guerra Mundial terminou há dezassete anos e a população já teve tempo de se adaptar à nova ordem mundial. Mas não tem sido fácil: o Mediterrâneo foi drenado, a população de África foi eliminada e os Estados Unidos da América divididos entre nazis e japoneses. Na zona neutra que divide as duas superpotências vive o homem do castelo alto, autor de um bestseller de culto, uma obra de ficção que oferece uma teoria alternativa da história mundial em que o Eixo perdeu a guerra. O romance é um grito de revolta para todos aqueles que sonham derrubar os invasores. Mas poderá ser mais do que isso? Subtil e complexo, O Homem do Castelo Alto permanece como o melhor romance de história alternativa jamais escrito. 




Opinião: A premissa seduziu-me imediatamente: um contexto histórico em que a Segunda Guerra Mundial evoluiu no sentido inverso. Os Aliados perderam a guerra e os países do Eixo dominam a política mundial. A nova ordem mundial consiste numa divisão dos territórios conquistados entre nazis e japoneses, a eliminação do mar mediterrâneo e o extermínio total da população africana. O território leste do país que foi conhecido por Estados Unidos da América está sob o domínio nazi, enquanto que o território Oeste pertence ao Japão. 

Um cidadão sueco que viaja discretamente para o continente americano, onde negócios muito especiais o esperam com um japonês. Este japonês, profundo seguidor dos oráculos do antigo livro chinês I Ching, procura resultados auspiciosos para o futuro, ao mesmo tempo que sente uma terrível angústia face ao presente. É cliente habitual do comerciante nativo que vende objectos do período anterior à guerra, pérolas da extinta cultura norte-americana, aos milionários japoneses que dominam o território. Um dos fabricantes destes produtos é um judeu divorciado que mudou de nome para não ser identificado, e enviado para a Europa para as mãos dos nazis. Despede-se do seu emprego e, sob os augúrios do I Ching, o oráculo da velha sabedoria, procura um novo rumo para a sua vida e acalenta a esperança de reencontrar a ex mulher. Esta, por sua vez, decide fazer-se à estrada em busca do Homem do Castelo Alto, autor de O Gafanhoto será um fardo. Nesta insólita obra de ficção a realidade é totalmente diferente num mundo em que o Eixo perdeu a guerra e os Aliados saíram vitoriosos. 

Este livro é feito de subtilezas. Ao mesmo tempo que lemos acerca da ordem mundial que caracteriza este período de História alternativa, lemos o ponto de vista de personagens que tentam elas próprias viver numa sociedade cheia de tensões sociais e políticas. Quando quase todos tentam ser algo diferente do que aparentam, pode ser demasiado difícil conhecer a verdade. 

Este livro despertou-me sensações contraditórias. Se por um lado adorei e admirei a construção do contexto alternativo da história e a detalhada caracterização emocional e psicológica das personagens, por vezes senti-me perdida na sua espiritualidade e sentido de fatalidade. No entanto, à medida que nos aproximamos do final, o livro prende-nos com a sensação fantástica que algo vai ser revelado, algo vai mudar, algo que é impossível travar porque é tão fatal como se já tivesse acontecido. As páginas finais denunciam o brilhantismo da obra. Recomendo! 

Uma nota para o excelente texto do Nuno Rogeiro, sem dúvida um conhecedor e admirador da obra de Dick. 

O melhor: O final e o Homem do Castelo Alto. 
O pior: Senti-me por vezes perdida nas divagações emocionais/espirituais, principalmente da personagem Tagomi. 


4/5 – Gostei Bastante

07/01/2011

A Caixa em Forma de Coração, Joe Hill


A Caixa em Forma de Coração, Joe Hill 


Título Original: The Heart-Shapped Box 
Páginas: 324 
Editora: Civilização 


Sinopse: Judas Coyne colecciona o macabro: um livro de receitas para canibais... uma corda usada num enforcamento... um filme snuff. Uma lenda do death metal de meia-idade, o seu gosto pelo bizarro é tão conhecido entre a sua legião de fãs como os excessos da sua juventude. Mas nada do que ele possui é tão inverosímil ou tão medonho como a sua última descoberta, um artigo à venda na Internet, uma coisa tão estranha que Jude não consegue resistir a pegar na carteira. 
Por mil dólares, Jude tornar-se-á o orgulhoso dono do fato de um homem morto que se diz estar assombrado por um espírito inquieto. Ele não tem medo. Passara a vida a lidar com fantasmas - o fantasma de um pai violento, o fantasma das amantes que abandonara sem compaixão, o fantasma dos companheiros de banda que traíra. Que importância teria mais um? Mas o que a transportadora entrega à sua porta numa caixa preta em forma de coração não é um fantasma imaginário ou metafórico, não é um benigno motivo de conversa. É real. 



Opinião: Judas Coyne é um homem de cinquenta e quatro anos que viu a sua banda ser um sucesso no mundo do metal, e que continua a ser uma estrela de rock mesmo depois da banda se ter desmembrado devido à morte dos seus dois companheiros. Jude vive numa quinta no estado de Nova Iorque, com os seus dois pastores alemães e a sua namorada do momento, Georgia. Esse não é o seu verdadeiro nome. Ao longo da sua carreira Jude foi coleccionando namoradas, raparigas góticas, fans da sua música, raparigas que se querem distanciar das meninas de província que foram. Enquanto estão com Jude são apenas o nome do estado de onde são originárias. Além de Georgia, Jude lida diariamente com o seu secretário pessoal Danny, um jovem simpático e falador que gere os contactos de Judas Coyne na sua carreira a solo, no escritório instalado nas traseiras da casa. 

A vida de Jude encontra-se bastante calma na manhã em que recebe a encomenda. Quando Danny lhe falou no leilão do “Fantasma do Padrasto”, Jude não hesitou em pagar mil dólares para terminar o leilão e adquirir um fato do homem morto, que a vendedora diz estar assombrado pelo espírito perturbado do seu padrasto. Quando abre a encomenda e descobre a caixa preta em forma de coração que é o receptáculo do fato do homem morto, algo se agita nas entranhas de Jude com um sentimento que algo não está bem. 

Bom, então isto é que é um livro de horror. Acho que afinal sou fan do género. Adorei este livro. Joe Hill escreve de forma fluída, espirituosa e terrivelmente real. Gostei particularmente da forma como a personagem principal, Jude, é construída. A ideia inicial é a de uma personagem de certa forma estereotipada e superficialmente interessante. Mas à medida que a história avança, e sempre com o ponto de vista da cabeça de Jude, vamos assistindo ao desdobramento da personagem, vamos conhecendo mais profundamente esta personagem e perceber que está extremamente bem construída, sem deixar de ser real. O mesmo se aplica ao enredo em si: aquilo que aparenta ser apenas um embuste ou uma mera his´toria de fantasma revela-se algo mais denso e profundo. E Negro. Foi surpreendente chegar ao fim e aperceber-me que a acção propriamente dita decorreu durante apenas alguns dias. O livro está cheio de flashbacks (que não o são realmente), personagens do passado que se confundem no presente, noites demasiado longas e dias em que os acontecimentos se precipitam. 

Com este livro tive finalmente aquela sensação fantástica de ligeiro temor, que aumenta ao passar das páginas, mas que me impele ainda mais na leitura. Aquele formigueiro que se sente quando se sabe que algo de mau e assustador vai acontecer. Ao pousar o livro, a sensação permanece e queremos saber ainda mais. 

Não conhecia o autor, e com este livro fico com a sensação que se trata de uma mente interessante, culta e livre de preconceitos. Suponho que não seja fácil escrever sobre uma personagem envolvida no mundo da música, em particular no mundo negro do metal, e construir uma história que não cai nos aterradores clichés associados a esta cultura e às pessoas que a constituem. Joe Hill conseguiu fazê-lo, e com uma graça e elegância que me fizeram soltar algumas gargalhadas ao longo do livro, e estabelecer imediatamente uma empatia com a personagem principal. 

Terminado este livro, sinto que testemunhei algo grande e íntimo, que não sei verdadeiramente explicar. Acho que algo do autor foi deixado nestas páginas. Não algo de literal, mas um vislumbre da natureza espirituosa e do humor negro e inteligente do escritor. 

Nas páginas finais da leitura deste livro, já pela noite dentro, dei por mim a levantar os olhos do livro e olhar para o rectângulo negro que era o corredor através da porta do quarto entreaberta. Sorri para mim e pensei para o livro “Raios. Apanhaste-me!”. 

O melhor: Jude e o conceito da “Estrada da noite”. 
O Pior: Demorei a entrar no ritmo de leitura, devido a falta de tempo para ler mais do que algumas páginas de cada vez. 

4/5 – Gostei bastante 



Aproveito para informar que este livro está agora à venda nas Fnacs e na Wook por apenas 5€!

04/01/2011

Cleo - Helen Brown


Cleo, Helen Brown
A história de uma gatinha que salvou uma família
Páginas: 352
Título original: Cleo: The Cat Who Mended a Family
Editora: Caderno




Sinopse: Helen estava na casa de uma amiga quando recebeu a notícia: Sam tinha acabado de morrer. Ainda pensou que Sam fosse um familiar qualquer distante, mas não, era mesmo o seu Sam, o seu filho mais velho: morreu atropelado, à frente do irmão mais novo. O mundo de Helen começou a ruir. Noites sem dormir, pensamentos suicidas, uma depressão profunda. Enquanto, à sua volta, a família se deixava levar pelo desespero, pelas discussões, pela tristeza infinita de perder um ente querido. Até que um dia bateram à porta. Era uma vizinha, trazia no colo um gato ainda bebé. Helen já nem se lembrava. Um mês antes tinha ido com os filhos ver uma ninhada, e prometera a Sam que lhe daria um dos gatinhos. E ali estava ele, uma impertinente bola de pêlo preto. O seu primeiro impulso foi rejeitar de imediato aquele pequeno intruso. Mas então viu Rob, o seu outro filho, a acariciar o bichano. E pela primeira vez em muito tempo, viu-o sorrir… Cleo tinha chegado a casa. E aos poucos começaria a devolver àquela família a alegria de viver.

Opinião: Este foi um livro que, depois de quase um ano na estante, decidi do nada pegar e ler. E li-o num dia inteiro. Não é seguramente uma grande obra literária, é essencialmente uma história pessoal contada na primeira pessoa pela autora. Mas a leitura avança no ritmo agradável da escrita.

Helen é uma mãe de 2 filhos, de 9 e 6 anos. A sua família, filhos, marido e cadela, vivem numa casa de madeira no topo de uma encosta na capital da Nova Zelândia. As suas vidas são arrasadas quando o filho mais velho, Sam, morre atropelado num acidente, alterando o centro de gravidade de todos os elementos da família. Enquanto Helen se afunda numa depressão profunda, a sua família começa a desmoronar. Na segunda semana após a morte de Sam, a pequena Cleo é entregue em casa de Helen por uma vizinha. A gatinha, a mais pequena e frágil da ninhada, tinha sido escolhida por Sam um mês antes, mas é claro que Helen já não tinha memória desse compromisso, e não tencionava cumpri-lo. Todos na sua família eram amantes de cães, e nada fans de felinos. Cleo era a gata para Sam, mas sem ele, como poderiam adoptar uma gatinha bebé no momento mais negro das suas vidas? A verdade é que foi Cleo quem adoptou a família.

Este livro descreve uma depressão e dor tão profundas que eu creio não conseguir apreender nem à superfície: a perda de um filho. Apesar de toda a comoção associada ao relato real de uma tragédia tão triste, Helen Brown escreve com graça e precisão aquilo que em muitos livros acaba por se tornar numa mera torrente de desespero e depressão que arrasta o leitor. O resultado é uma empatia com a família em sofrimento, e o reconhecimento do desespero que uma situação assim causa num lar, mas sem cair na lamechice e no chorrilho de tristezas. E assim queremos continuar a ler. Ao mesmo tempo, criei imediatamente uma empatia com Cleo, a pequena gata metediça que invade a tristeza destas pessoas, e tem a ousadia de trazer a alegria de novo aos seus corações. Eu própria sou uma amante de gatos. Tenho uma gata comigo, e revi-a em muitas das situações engraçadas e enternecedoras que Cleo protagonizou. Afinal não é só a minha gata que, ao ver-me a ler um livro, considera isso um convite a vir posicionar-se precisamente entre o livro e os olhos da dona (e reclama quando é afastada), e não é só a minha que se sente atraída pelos cantos dos livros pelo que são: excelentes locais para esfregar o focinho e roer.

O início de cada capítulo tem uma frase que caracteriza os felinos, e vi nelas verdadeiras citações da Bíblia dos Gatos, se tal coisa existisse! Expressões como “O verdadeiro nome para um gato é ‘Sua Majestade’” e “É o gato que escolhe o dono, e não o contrário” fizeram-me rir de tão verdadeiras que são. Deliciei-me com as traquinices e a personalidade de Cleo à medida que a família endireitava o seu percurso na vida, e acreditei na força que adveio deste animal de estimação para ultrapassar outros obstáculos que foram surgindo.

No fundo acabei por ficar a gostar ainda mais de gatos! Quando soube que este livro abordava a temática da perda de um filho, temi ficar demasiado triste ao lê-lo, mas acabei por passar mais momentos a sorrir para o livro e até a rir alto (passando vergonhas no comboio, pois claro) do que com sentimentos tristes. 

Por outro lado, também temi um livro mais lamechas e pouco rico em conteúdo. Ainda bem que senti o impulso de pegar neste livro!

Fiquei agradavelmente surpreendida com a leveza de discurso e até com o carácter espirituoso com que esta história foi contada. Recomendo para os amantes de gatos, que  deliciar-se-ão com as traquinices felinas, mas também para as pessoas que pensam que não gostam de gatos. Talvez mudem de opinião.

Acabo esta opinião como comecei: não é seguramente uma grande obra literária, mas proporcionou-me bons momentos de leitura.
Uma nota final para as fotos pessoais da autora e da família, que vão surgindo, uma por capítulo, que não nos deixam esquecer que se trata de uma história real.

O melhor: Cleo, em todo o seu poderio felino.
O pior: Saber que, apesar de tudo, é uma história real

4/5 – Gostei bastante